HISTÓRIA DO MUNICÍPIO

David Resmini – Professor e Historiador
Membro da Academia de Letras dos Municípios do Rio Grande do Sul


Por volta de 1830, paulistas e criadores de gado oriundos de São Paulo, dos Campos de Vacaria e da Fronteira do Rio Grande do Sul, na sua maior parte patenteados da Guarda Nacional, passaram a ocupar a região de pastagens naturais do Campo do Meio. Fundaram estâncias e dedicaram-se exclusivamente à criação de gado. Trouxeram consigo família, peões e escravos.

Em meados de 1890, para escapar dos piquetes de pilhagens e das tropas revolucionárias da Revolução Federalista, muitos proprietários levaram suas famílias para o interior da mata, entre os Rios Quaraim (Quatipi) e São Domingos, iniciando a ocupação da mata e o surgimento de uma agricultura de subsistência.

Até 1920, a sociedade ciriaquense era formada exclusivamente por luso-brasileiros – uma mistura de lusos, africanos e índios.

Em meados dos anos 20 do século passado, teve início a vinda, para Ciríaco, dos primeiros descendentes de imigrantes europeus, majoritariamente italianos, alguns poucos poloneses e alemães, oriundos da Colônia Velha: Veranópolis, Nova Prata, Guaporé e outros. Vieram com suas famílias e carroças puxadas a boi, a pé e a cavalo. Abriram picadas na mata até a sede da Colônia Bom Retiro, projeto de colonização criado por João Corso e Augusto Piccolli.

No centro do projeto estava reservado um espaço para a formação de um núcleo urbano. Local este onde teria vivido um tal Ciríaco, provavelmente oriundo de Cruz Alta que, segundo a tradição oral, tinha fama de peleador e escolheu este lugar, em meio à mata densa e de boa aguada, como refúgio por ter perdido uma luta de esgrima travada em Passo das Pedras. O Certo é que, quando da chegada dos colonizadores, o lugar já era conhecido como Ciríaco, existindo a sepultura do mesmo em uma colina da sede da Colônia.

Nas primeiras noites as famílias pioneiras dormiram ao relento ou em pequenas choupanas de taquara, até serem construídas rústicas moradias de tábuas de pinheiro, lascadas a machado e a cunha. Passaram a derrubar a mata e a fazer roças. Dedicaram-se a produção de grãos e a suinocultura para o mercado. Entre os pioneiros estavam os integrantes das famílias Dal Prá, Bristott, Bilibio, Zambotto, Barêa, Ferri, dentre outras.

Em 1924 foi realizada a primeira missa na Colônica Bom Retiro, na casa de José Dal Prá, pelo Padre Carlos da Congregação dos Padres Saletinos, da Paróquia Imaculada Conceição de Passo Fundo.

Passado algum tempo, construíram um capitel, que se tornou local de encontros dominicais para a reza do rosário, catequese, celebração de missas e casamentos. Em 1926 construíram a primeira capela de madeira e, em 1958 a atual, de alvenaria. A imagem de Santa Terezinha do menino Jesus, doada por uma família na construção do capitel, deu origem à capela e, posteriormente, à Paróquia que levou o seu nome.

Em 1927 a comunidade construiu a primeira escola, tendo como professora Rosina Barêa, contratada pela própria comunidade. Em 1931, a Prefeitura de Passo Fundo assumiu os encargos da Professora e a administração da escola.

Inicialmente, o suprimento das necessidades da Colônia e a venda da produção eram feitos na Casa de Comércio Vanini, hoje Município de Vanini, ou no Comércio de Otávio Busatto, em Casca ou, ainda, em Passo Fundo, a 70 km de distância.

Em pouco tempo surgiram as primeiras casas de comércio em geral e compra de produtos no pequeno núcleo urbano, no centro da Colônia. Numa queda d’água do Arroio Ciríaco foi construído um moinho colonial e, logo após, uma serraria, e usina elétrica. O núcleo urbano crescia. Em 1944, um grupo de ciriaquenses iniciou a construção do Hospital Santa Terezinha que, em 1956, foi vendido para as Irmãs Salvatorianas. Com o hospital a vila passou a contar com médico, enfermeiras e farmácia.

Em 1951 a vila de Ciríaco foi elevada à categoria de Distrito de Passo Fundo, pela Lei Municipal n.º 151/51, promulgada pelo Prefeito Daniel Dipp. Como Distrito, Ciríaco passou a ter Cartório e Registro Civil.

Em 1959 outra grande aspiração ciriaquense se concretizou: foi fundada a Paróquia Santa Terezinha de Ciríaco, pelo Bispo Diocesano de Passo Fundo, dom Cláudio Colling. O primeiro Pároco foi o Padre Elpídio Sulzbah, da Congregação da Sagrada Família. Inteligente e dinâmico, foi o grande mentor da emancipação.

Com o aumento da sede distrital, crescia também o anseio pela emancipação, liderada pelo Padre Elpídio. Em 12 de julho de 1964 realizou-se a primeira assembléia pró emancipação, tendo sido escolhida a Comissão Emancipacionista, assim formada:

Presidente: Alberto Ticiani
Secretários: Djalma Ciryno Rodrigues e Luiz Trevisol
Tesoureiros: Joaquim Ribeiro Netto e Alcides Tizzatto

Em 27 de agosto de 1965 realizou-se o plebiscito, consagrando a vitória emancipacionista.

Em 28 de dezembro de 1965 foi criado o Município de Ciríaco, pela Lei Estadual nº 5.195, sancionada pelo governador do Estado Ildo Meneghetti, sendo instalado oficialmente em 19 de maio de 1966, sob o comando do Interventor Albery Fagundes de Oliveira.

Com a autonomia, os ciriaquenses passaram a projetar a sua história, decidir seu desenvolvimento e formar sua estrutura política, econômica e sócio-cultural.